Méliès foi um artista fundamental na história do cinema, e sua influêncial na produção audiovisual atual é nítida. Neste post tentaremos abordar os aspectos de sua obra que são considerados mais revolucionários e influentes.
Por conhecer e dominar muitas diferentes formas de expressão artística, como a pintura, o desenho, a fotografia e o cinema, Méliès é o primeiro exemplo de cineasta a incluir na, então ainda inicial, linguagem cinematográfica elementos de hibridismo artístico e de linguage. Isso é muito claro em todos os filmes de Méliès, e é uma característica de sua produção que influenciou todo o cinema que viria a seguir.
Mesmo nos filmes de Griffith, considerado hoje em dia o pai da narrativa clássica, as inflências do teatro e da literatura é clara, e muito responsável pela construção do filme. Nos primórdios do cinema, porém, esse hibridismo não existia, surgindo então com Méliès. Basicamente, Méliès foi o responsável por adaptar técnicas de fotografia e teatro para o cinema, não só de forma técnica (funcionamento da câmera, efeitos especiais etc), mas também imagética e conotativa (linguagens). O pioneirismo de Méliès inclui também a narrativa, que por mais que não fosse explícita em seus filmes e que o próprio diretor não a admitisse, são perceptíveis em seus filmes, mesmo que na forma de esquetes ou pequenos enredos.
Ainda assim sua maior contribuição pro cinema atual sem dúvida são os efeitos especiais. As técnicas utilizadas por Méliès em sua época foram adaptadas para os dias atuais, que embora possam usar mais tecnologias e recursos, ainda seguem os princ;ipios de funcionamento colocados por Méliès na época (veja mais aqui e aqui). Méliès também é considerado o pai da ficção científica, e é seu crádito a função do cinema não mais de simplesmente retratar a realidade, mas sim transformá-la, transformando a experiência cinematográfica numa forma de escape à realidade para um outro mundo fantástico que faz parte de nosso imaginário comum até os dias atuais.
Hoje em dia podemos citar alguns exemplos de cineastas e produções que homenageiam Méliès. O exemplo mais interessante e o primeiro que nos salta à mente é o clipe da banda Smashing Pumpkins para a música Tonight tonight, que faz uma releitura do filme Viagem à lua, e alguns outros filmes de Méliès.
Outro exemplo são os filmes do diretor Michel Gondry, que assim como Méliès, dá a seus filmes um caráter artesanal e experimental, além do hibridismo de linguages. Assim, a influência de Méliès também é clara em seu trabalho.
clipe dirigido por Gondry para a banda White Stripes
Além de ter revolucionado a linguagem narrativa e criado efeitos incríveis para a época, e que deram origem aos efeitos especiais de hoje (veja mais aqui e aqui), um dos maiores legados de Méiès foi o "aparato" cinematográfico que este regulamentou e criou.
Por "aparato", entende-se todos os equipamentos utilizados nas filmagens de forma técnica e de produção. Dentre estes, pode-se separar os mais influentes: o estúdio, os cenários, a montagem e o story board. Trataremos também sobre a câmera de Méliès, que embora não apresente diferenças significativas daquela produzida pelos irmãos Méliès, foi feita especialmente para Méliès.
O Estúdio
Méliès foi o primeiro a de fato construir um local específico para a realização de suas gravações. A "casa de vidro", como é chamado o estúdio de Méliès, foi o primeiro estúdio cinematográfico, e é usado como modelo e padrão até os dias atuais (com adaptações, claro). Aliás, a primeira sala de cinema também foi inaugurada por Méliès, como se pode ver mais adiante neste post.
O estúdio foi erguido em 1897. Era um grande galpão envidraçado, que continuou sendo aperfeiçoado e transformado até 1990. As dimensões do edifício são exatamente as mesmas do teatro Robert Houdin. Méliès fez uso de várias estruturas e técnicas já utilizadas em estúdios de fotografia e teatros.
Com teto e paredes de vidro, o estúdio foi construído para aproveitar o máximo a luz solar, já que naquela época a eletricidade era algo caro e dificilmente poderia ser utilizada na intensidade necessária para uma gravação. Dentro do galpão, haviam áreas específicas para cada atividade reativa a produção dos filmes.
A área em que eram encenadas e gravadas as cenas era estrategicamente posicionada para receber a luz solar durante o maior período possível do dia. Havia tamb;em várias estruturas auxiliares que facilitavam as filmagens e trucagens, tais como trilhos para pendurar os cenários e câmeras, alçapões, portas escondidas etc. Para os períodos de verão, quando a luz do sol era muito intensa e direta, as janelas do estúdio eram cobertas com papel manteiga, para que nas filmages as sombras e a luz não fossem muito intensas. Para facilitar esta operação, Méliès instaou um sistema de roldanas e molduras que permitiam cobrir as janelas apenas puxando uma corda.
Havia também uma sala anexa feita especialmente para revelar os filmes, utilizando a mesma estrutura de estúdios para revelação fotográfica. Desta forma a filmagem era toda controlada por Méliès, desde a gravação até a revelação dos filmes.
clique na imagem para ver maior.um esquema do funcionamento do estúdio de Méliès
Os cenários Méiès foi o primeiro a não filmar somente ao ar livre cenas mais cotidianas, produzindo esquetes planejadas e utilizando cenários, muitas vezes fantásticos. Os cenários eram feitos pelo próprio Méliès, pintados em grandes telas, que ficavam estendidas ao fundo da cena. Os cenários mais elaborados envolviam várias técnicas de trucagem utilizadas no teatro de magia, como alçapões, portas e outros compartimentos escondidos. É interessante notar que Méliès já pintava seus cenários em preto em branco, para que assim pudesse controlar o contraste das cenas, já que fazendo colorida era mais difícil prever como a pelícura captaria as cores diferentes.
Provavelmente o melhor exemplo dos cenários incríveis de Méliès está em seu mais reconhecido filme: Viagem à lua.
cena do filme Viagem à lua: efeitos e cenários incríveis Falando nisso, Méliès também fez filmes coloridos. Como? Usando uma técnica comum da época, que era mandar colorir a película. O que acontecia: a película era coloria com tinta, como se pintasse um papel ou tela, quadro-a-quadro, e ao ser projetada as cores apareciam, ainda que toscamente. Essa técnica não foi utilizada somente por Méliès, e fazia também muito sucesso com o público.
A montagem e o story board
Méliès não foi o primeiro autilizar a montagem em seus filmes, mas a primazia como fazia foi um marco no cinema. Seus cortes quase invisíveis na realização das trucagens são ainda hoje impressionantes, e além disso ele foi o primeiro a criar algo mais próximo de uma narrativa, muito embora o próprio não admitisse isso. A montagem narrativa clássica posteriormente desenvolvida por Griffith, quem se considera ser o pai da narrativa cinematógráfica, deve muito a Méliès. Segundo COSTA (1995), a diferença da montagem feita por Méliès e outros pioneiros do primeiro cinema é que não visava criar uma narrativa cinematográfica, mas sim facilitar, e muitas vezes explicitar, o caráter de espetáculo das produções.Costa cita também o uso de travelings de forma pioneira por Méliès. Porém, o uso deste não era de forma a dar movimento à câmera, mas sim criar ilusões nas filmagens. No filme L`Homme à la tête caoutchout (1902), onde há o uso de dupla exposição para que a cabeça de Méliès vá crescendo e finalemnte exploda, há esse uso imperceptível de travelling, na tomada da cabeça de Méliès, a câmera vai se aproximando da cena para dar a impressão que a cabeça fique maior, ao tornar-se mais próxima da câmera.
Méliès não utilizava roteiros para seus filmes, mas desenvolvia, através de desenhos, todas as cenas que havia planejado. Embora não tenhamos referências bibliográficas para isso, o grupo que desenvolveu este conteúdo credita a isso um possível primeiro uso do story board, técnica usada atuamente que planeja quadro-a-quadro as cenas do filme. Esse tipo de planejamento fica claro ao se assistir os filmes de Méilès, em que cada quadro parece ser um desenho ou pintura.
quadro-a-quadro do filme Viagem à lua
Câmera Diante da recusa de Lumiére pai a lhe vender uma câmera, Méliès buscou outros meios de conseguir uma. Embora acredite-se que ele mesmo construiu tal equipamenteo, sabe-se que na verdade contratou um engenheiro para tal.
Pouquíssimas pessoas poderiam fornecer tal equipamento na época, assim, Méiès vai à Ingaterra, onde encontra Robert-William Paul, um óptico inglês que já havia trabahado na fabricação de uma câmera e projetor. Em 2 de março de 1896 ele patententeia um projetor de filmes 35 mm que batiza de "teatógrafo". Assim, este poderia fornecer uma destas máquinas a quem desejasse, inclusive há registros de outros mágicos que utilizaram tal equipamento. Foi com este projetor que Méliès passou a exibir filmes feitos por outros cineastras em seu teatro, inaugurando, assim, a primeira sala de cinema, em abril de 1896, no Robert Houdini. As exibições eramum sucesso e agradavam muito a Méliès, que logo quis fazer seus próprios filmes.
Méliès então tem a idéia de transformar seu projetor (teatógrafo) em uma câmera, invertendo o aparelho, acrescentando uma lente de filmagem, fecha o obturador com uma tampinha para isolá-lo da luz e passa a filmar com este apareho. Era uma máquina pesadíssima e de difícil transporte, o mecanismo ficava dentro de uma caixa de madeira e sobre um superte pesado. A capacidade era apenas de 20 metros de película. Não havia visor, de forma que regulava-se o enquadramento e o foto sob uma capa preta, como nas máquinas fotográficas. Uma roda presa ao pé do aparelho servia para colocálo em funcionamento. Além disso, ao funcionar, a máquina fazia muito barulho, sendo apelidada por Méliès de "moinho de café", ou "metralhadora".
Mas os resultados foram satisfatórios, e em maio/junho de 1896 Méliès roda seu primeiro filme, no jardim de sua casa: "Une parte de cartes (uma partida de cartas)", onde aparece atuando. Apesar de ter conseguido uma câmera para gravar seus filmes, isso deixou Méliès sem o projetor para exibi-los, já que a transformação feita por ele era irreversível. Assim teve que procurar outro aparelho para exibir seus filmes, indo atrás de outro fabricante: Louis Charles. No dia 20 de abril de 1986 Louis patenteia tal projetor, de projeto bastante original, que é considerado moderno e ousado para época e foi utilizado até os anos 60. Porém, em 4 de setembro de 1896, Méliès também patenteia, junto a seus sócios, a invenção do kinetográfico, mesmo projeto da patente de Charles. Não se sabe se houve plágio por parte de Méliès ou se houve acordo com Louis Charles.
Antes do cineasta, havia Méliès, o mágico. Ele descobre a arte da magia em Londres, com 22 anos e prova ser um talentoso prestigiador. Se apresentou em vários estabelecimentos de Paris, alguns de grande renome.
Nessa época, Méliès ainda trabalhava para seu pai, em sua fábrica de sapatos. O desejo de seu pai era aposentar-se e deixar o negócio nas mãos de seus três filhos. Porém, Méliès não possuía o menor interesse em continuar nos ramos. Embora trabalhasse de modo eficiente para seu pai e tenha prosperado os negócios da família, o única coisa que o interessava dentro do ofício era os conhecimentos sobre a mecânica e o maquinário das fábricas.
Assim, Méliès vende sua parte da herança e com o dinheiro compra o já célebre, no momento abandonado, teatro de magia e ilusão em Paris criado por Robert Houdin, que leva também seu nome. Isso foi em primeiro de julho de 1888, Georger tinha 26 anos. Foi diretor do teatro por 30 anos, e depois dele ninguém mais assumiu o posto. Hoje em dia o antigo prédio do teatro foi demolido dando lugar a outro edifício em Paris.
cartaz do teatro para uma noite com exibição da lanterna mágica
A carreira de Méliès no cinema é intrinsecamente conectada a sua carreira como mágico. Assim que comprou o teatro, Méliès reformou-o e passou a invertir em novos shows para aumentar o público, que no início era escasso. Assim começaram a ser criadas as grandes ilusões pelas quais ficou famoso. A arquitetura e planejamento do teatro facilitavam os espetáculos, já que Houdin o havia construído com extremo cuidado.
Seus shows eram sucesso de público e envolviam elaborados números e ilusões, que o transformaram em um dos maiores criadores de magia do século. Uma de suas inovações neste campo foi misturar magia e teatro em pequenas esquetes envolvendo vários mágicos dentro de uma pequena narrativa. O público era surpreendido por não só um, mas até 10 mágicos fazendo pequenos truques de uma vez no palco do teatro. Méliès também devenvolvia os cenários para tais cenas, e era ele quem idealizava todo o ato. Méliès se esfoçava para fazer jus àquele que nomeia seu teatro, Robert Houdin, mestre do ilusionismo moderno. Além disso, Méliès cuidava e resguardava várias invenções mecânicas de Houdin usadas para magia e seus autônomos.
Nos espetáculos também aconteciam exibições de lanterna mágica, algo que encantava seu diretor.
Jeanne D`alcy tornou-se a estrela do teatro. Além de seu tipo físico facilitar a realização dos truques, sua personalidade e carisma agradavam o público. Mais tarde, ela estrelaria os primeiros filmes de Méliès e se tornaria sua segunda esposa.
Foi a experiência que Méliès ganhou em seus anos no teatro que possibilitou suas inovadoras trucagens em seus filmes, que foram incorporados a programação do teatro posteriormente. Incusive, foi neste teatro que Méliès inalgurou a primeira "sala de cinema", em abril de 1896, para exibição dos filmes feitos por ele com sua câmera. A partir disto, várias esquetes foram reproduzidas em película, como “A Lua a um metro”, dentre outros.
Um dos maiores feitos de Méliès e pelo qual ele revolucionou a linguagem cinematográfica são as trucagens: os efeitos especiais de Méliès. Ao buscar adaptar suas esquetes teatrais para o cinema, Méliès utilizou truques de edição que o permitiam não somente gravar a realidade, como se fazia naquele primeiro cinema, mas sim modificá-la e filmar o impossível e o incrível.
Pode-se separar três principais efeitos de edição utilizados e desenvolvidos por Méliès, além de outras técnicas de filmagem que o mesmo utilizada para criar ilusões em seus filmes.
Inicialmente, vamos tratar das técnicas de edição utilizadas por Méliès, e que o fizeram famoso.
Parada e substituição
A técnica desenvolvida e mais utilizada por Méliès é a parada e substituição, onde a câmera era desligada durante determinada ação, o ator ficava parado num mesmo lugar e algum objeto era substituído por outro, ou movido de lugar, e se reiniciava a câmera. Assim, na cena parecia que um objeto era magicamente transformado em outro, ou desaparecia, ou movia-se de súbito.
Reza a lenda que Méliès descobriu esta técnica acidentalmente. Filmando uma cena externa da Place de l`Opéra, em Paris, há um problema na câmera, que por ser ainda rudimentar, costumava prender, rasgar, amassar etc a película. Méliès teve que parar o aparelho apra resolver o problema, voltando a filmar apenas alguns minutos depois, durante os quais os passantes, carros e tudo o que havia na cena já haviam mudado de lugar. Mais tarde, ao assistir o filme feito, Méliès viu, no momento em que a câmera havia sido parada, um ônibus se transformar em rabecão, homens virarem mulheres. Assim foi descoberto o truque da parada e substituição.
Porém, a nova forma de encarar a história do cinema refuta tal descoberta acidental, explicando que Méliès, um estudioso constante e apaixonado or cinema, já deveria estar atento às nivas técnicas de edição de película e assim provavelmente desenvolveu conscientemente e através de vários estudos esse efeito.
Para que esta trucagem fique perfeita, a transição de cenas deve ser feita com extremo cuidado. Dessa forma, se fazia necessária uma montagem e colagem depois que a película era revelada, já que apenas parando e reiniciando-se a câmera não se concegue o momento exato para que o truque seja imperceptível.
Um exemplo desta técnica utilizada em filme: a mobília parece aparecer e desaparecer como mágica. Na verdade há vários cortes que permitiam a incersão dos objetos em cena. Essa técnica, também pode-se dizer, é como se fosse a pioneira do stop-motion, técnica de animação muito utilizada atualmente.
Transição/dissolção
Nessa técnica uma imagem parece sobrepor-se lentamente a outra, como se houvesse uma transformação bem aos olhos do espectador. Esse efeito era conseguido pela técnica de sobreposição e sobreimpressão das imagens, de forma que a câmera filma uma imagem, é parada, e rebobina-se a película para gravar-se novamente na mesma imagem, revelando a película duas vezes, até que tem-se apenas uma das imagens na tela.
Neste filme temos um exemplo de para e substituição usada em conjunto com a dissolção. A técnica ;e usada quando os personagens das cartas de baralho lentamente se transformam em atores reais, e suas imagens vão surgindo na tela, enquanto a outra desaparece lentamente.
Sobreimpressão/incrustação
A técnica de dissolção foi adaptada para um novo truque: filma-se uma imagem em um fundo totalmente preto. O preto não é revelado na película, tendo-se somente a figura iluminada. Depois, rebobinava-se a câmera e filmava-se uma nova imagem, desta vez com o fundo preto onde localizava-se a imagem anterior. Dessa forma, pode-se incrustar uma imagem na outra e produzir cenas incríveis, como vemos no filmes "O homem-orquestra". Nesse caso, a película passou pela câmera cerca de sete vezes, fora os truques de pausa e substituição.
Neste filme, Méliès gravou sou própria cabeça várias vezes, no fundo preto e vestido de preto, e depois gravou por cima ele mesmo jogando-a na posição previamente gravada, com a ajuda de uma réplica de sua cabeça de papel-maché. Temos também outros exemplos do uso desta técnica:
Outras técnicas
Para filmagens passadas no submarino, melies filmava a cena através de um aquário contendo peixes vivos, que magicamente transitavam pela cena.
Por estudar muito, Méliès descobriu vários aperfeiçoamentos para suas filmagens. Dentre eles: a câmera vertical; a câmera era presa em uma das passarelas que existiam no teto do estúdio, e virada para baixo, de forma que filmasse o chão. O cenário era colocado estendido no chão e os atores poderiam interagir com o mesmo na horizontal, parecendo serem capazes de estripulias milagrosas, como andar nas paredes.
Neste vídeo, além do uso das técnicas previamente aqui descritas, Méliès usa o truque de mover o cenário atrás dos atores para dar a impressão de que a cena se move e os atores estão viajando pelo espaço, ou de estrelas caindo, etc.
Neste documentário em inglês pode-se entender com facilidade as técnicas utilizadas por Méliès, e também conhecer um pouco de sua vida.
A “invenção”, ou descoberta, do cinema, ou seja, como capturar e reproduzir imagens em movimento, foi um processo contínuo de avanços tecnológicos e novas invenções. Oficialmente, se considera como a primeira sessão de cinema aquela realizada em 28 de dezembro de 1895, onde foi mostrado a um público surpreso a nova máquina construída pelos irmãos Lumiére, o cinematógrafo.
uma amostra de vídeos exemplificando a produção dos irmãos Lumiere na época
Antes disso, já haviam várias experiências, mais antigas e mais recentes, de reprodução de movimento, geralmente ligadas a técnicas de animação de imagens. Já em 1894 Thomas Edison inventa o Quinetoscópio, uma máquina que reproduzia pequenos filmes dentro de uma caixa preta, por onde se olhava através de um visor. Porém, nesse aparelho não havia a possibilidade de exibição, já que somente uma pessoa poderia assistir o filme por vez. O invento fez muito sucesso, e foi sua chegada à França que despertou os irmãos Lumiére para a produção e reprodução de imagens em movimento.
Isto culminou na noite de 1895, que certamente fez grande sucesso com o público, e passou a ser repetida e evoluída até os dias atuais. Porém, antes da importantíssima exibição os irmãos Lumiére fizeram uma sessão de teste, na noite anterior, somente para amigos e conhecidos. Dentre eles estava Georges Méliès, que havia tornado-se conhecido do patriarca Lumiere devido a seu interesse por fotografia.
Diz-se que Meliés o encontrou na escadaria de seu prédio e o convite foi feito, com a justificativa que, devido ao gosto de Méliès por trucagens e espetáculos de magia, ele deveria certamente se interessar pela nova invenção.
De fato, Méliès apaixonou-se subitamente pela nova invenção, rapidamente perguntando a Lumiére se esta se encontrava à venda. Diante da recusa do amigo, Méliès decidiu construir o seu próprio projetor.
Algum tempo depois, graças à ajuda de um engenheiro, Méliès possuía uma câmera e um projetor, e estava livre para realizar seus filmes.
Nota-se facilmente a diferença entre os filmes de Méliès e Lumiere, mas, segundo COSTA (1995), ambos serviam ao principal propósito do primeiro cinema: o cinema de atrações. Ou seja, ainda que possua uma abordagem mais “artística” e lúdica, os filmes de Méliès eram feitos com o intuito de divertir o espectador e surpreendê-lo, como num espetáculo de magia.
Grande parte desse caráter dá-se ao fato de que os filmes nesta época eram geralmente exibidos em feiras e parques de diversões , em meio a vários tipos de divertimentos. Assim, os filmes bem-sucedidos eram aqueles que chamavam bastante a atenção do público, seja com mágicos e incríveis efeitos especiais, seja mostrando partes exóticas do globo ou eventos públicos.
Mesmo a atuação dos atores e o posicionamento da câmera são influenciados por esta característica atribuída ao cinema de então. Ainda segundo COSTA (1995), a gestualidade dos atores é baseada no teatro do século XIX, com gestos afetados e exagerados. A câmera era estática, voltada à cena como um espectador assiste a um espetáculo, e os atores se dirigiam à mesma dessa forma. Toda a construção das cenas fictícias não possuíam intenção de veracidade, desde os cenários até os próprios “enredos”, entre aspas, já que a narrativa não era necessariamente existente em tais filmes.
Todas estas características estão presentes no cinema de Georges Méliès, que contribuiu imensamente ao primeiro cinema, atribuindo a este a possibilidade não só de retrato da realidade mas sim de criação de novas realidades e outros tempos.
um exemplo de esquete produzida por Méliès, de caráter teatral e pequena ou nenhuma narrativa
Aos 22 anos, Méliès entra em contato com o teatro de magia em Londres, apaixonando-se. Em 1888 abandona os negócios do pai para comprar e tornar-se o diretor do teatro Robert Houdin, com sua parte da fortuna paterna (veja mais sobre a carreira de Méliès no teatro de magia aqui).