quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Aparato das filmagens.

Posted on 12:53 by GM


Além de ter revolucionado a linguagem narrativa e criado efeitos incríveis para a época, e que deram origem aos efeitos especiais de hoje (veja mais aqui e aqui), um dos maiores legados de Méiès foi o "aparato" cinematográfico que este regulamentou e criou.

Por "aparato", entende-se todos os equipamentos utilizados nas filmagens de forma técnica e de produção. Dentre estes, pode-se separar os mais influentes: o estúdio, os cenários, a montagem e o story board. Trataremos também sobre a câmera de Méliès, que embora não apresente diferenças significativas daquela produzida pelos irmãos Méliès, foi feita especialmente para Méliès.


O Estúdio

Méliès foi o primeiro a de fato construir um local específico para a realização de suas gravações. A "casa de vidro", como é chamado o estúdio de Méliès, foi o primeiro estúdio cinematográfico, e é usado como modelo e padrão até os dias atuais (com adaptações, claro). Aliás, a primeira sala de cinema também foi inaugurada por Méliès, como se pode ver mais adiante neste post.

O estúdio foi erguido em 1897. Era um grande galpão envidraçado, que continuou sendo aperfeiçoado e transformado até 1990. As dimensões do edifício são exatamente as mesmas do teatro Robert Houdin. Méliès fez uso de várias estruturas e técnicas já utilizadas em estúdios de fotografia e teatros.

Com teto e paredes de vidro, o estúdio foi construído para aproveitar o máximo a luz solar, já que naquela época a eletricidade era algo caro e dificilmente poderia ser utilizada na intensidade necessária para uma gravação. Dentro do galpão, haviam áreas específicas para cada atividade reativa a produção dos filmes.

A área em que eram encenadas e gravadas as cenas era estrategicamente posicionada para receber a luz solar durante o maior período possível do dia. Havia tamb;em várias estruturas auxiliares que facilitavam as filmagens e trucagens, tais como trilhos para pendurar os cenários e câmeras, alçapões, portas escondidas etc. Para os períodos de verão, quando a luz do sol era muito intensa e direta, as janelas do estúdio eram cobertas com papel manteiga, para que nas filmages as sombras e a luz não fossem muito intensas. Para facilitar esta operação, Méliès instaou um sistema de roldanas e molduras que permitiam cobrir as janelas apenas puxando uma corda.

Havia também uma sala anexa feita especialmente para revelar os filmes, utilizando a mesma estrutura de estúdios para revelação fotográfica. Desta forma a filmagem era toda controlada por Méliès, desde a gravação até a revelação dos filmes.



clique na imagem para ver maior.
um esquema do funcionamento do estúdio de Méliès


Os cenários

Méiès foi o primeiro a não filmar somente ao ar livre cenas mais cotidianas, produzindo esquetes planejadas e utilizando cenários, muitas vezes fantásticos. Os cenários eram feitos pelo próprio Méliès, pintados em grandes telas, que ficavam estendidas ao fundo da cena.
Os cenários mais elaborados envolviam várias técnicas de trucagem utilizadas no teatro de magia, como alçapões, portas e outros compartimentos escondidos. É interessante notar que Méliès já pintava seus cenários em preto em branco, para que assim pudesse controlar o contraste das cenas, já que fazendo colorida era mais difícil prever como a pelícura captaria as cores diferentes.

Provavelmente o melhor exemplo dos cenários incríveis de Méliès está em seu mais reconhecido filme: Viagem à lua.

cena do filme Viagem à lua: efeitos e cenários incríveis

Falando nisso, Méliès também fez filmes coloridos. Como? Usando uma técnica comum da época, que era mandar colorir a película. O que acontecia: a película era coloria com tinta, como se pintasse um papel ou tela, quadro-a-quadro, e ao ser projetada as cores apareciam, ainda que toscamente. Essa técnica não foi utilizada somente por Méliès, e fazia também muito sucesso com o público.





A montagem e o story board

Méliès não foi o primeiro a utilizar a montagem em seus filmes, mas a primazia como fazia foi um marco no cinema. Seus cortes quase invisíveis na realização das trucagens são ainda hoje impressionantes, e além disso ele foi o primeiro a criar algo mais próximo de uma narrativa, muito embora o próprio não admitisse isso. A montagem narrativa clássica posteriormente desenvolvida por Griffith, quem se considera ser o pai da narrativa cinematógráfica, deve muito a Méliès.

Segundo COSTA (1995), a diferença da montagem feita por Méliès e outros pioneiros do primeiro cinema é que não visava criar uma narrativa cinematográfica, mas sim facilitar, e muitas vezes explicitar, o caráter de espetáculo das produções.
Costa cita também o uso de travelings de forma pioneira por Méliès. Porém, o uso deste não era de forma a dar movimento à câmera, mas sim criar ilusões nas filmagens. No filme L`Homme à la tête caoutchout (1902), onde há o uso de dupla exposição para que a cabeça de Méliès vá crescendo e finalemnte exploda, há esse uso imperceptível de travelling, na tomada da cabeça de Méliès, a câmera vai se aproximando da cena para dar a impressão que a cabeça fique maior, ao tornar-se mais próxima da câmera.



Méliès não utilizava roteiros para seus filmes, mas desenvolvia, através de desenhos, todas as cenas que havia planejado. Embora não tenhamos referências bibliográficas para isso, o grupo que desenvolveu este conteúdo credita a isso um possível primeiro uso do story board, técnica usada atuamente que planeja quadro-a-quadro as cenas do filme. Esse tipo de planejamento fica claro ao se assistir os filmes de Méilès, em que cada quadro parece ser um desenho ou pintura.

quadro-a-quadro do filme Viagem à lua


Câmera

Diante da recusa de Lumiére pai a lhe vender uma câmera, Méliès buscou outros meios de conseguir uma. Embora acredite-se que ele mesmo construiu tal equipamenteo, sabe-se que na verdade contratou um engenheiro para tal.

Pouquíssimas pessoas poderiam fornecer tal equipamento na época, assim, Méiès vai à Ingaterra, onde encontra Robert-William Paul, um óptico inglês que já havia trabahado na fabricação de uma câmera e projetor. Em 2 de março de 1896 ele patententeia um projetor de filmes 35 mm que batiza de "teatógrafo". Assim, este poderia fornecer uma destas máquinas a quem desejasse, inclusive há registros de outros mágicos que utilizaram tal equipamento. Foi com este projetor que Méliès passou a exibir filmes feitos por outros cineastras em seu teatro, inaugurando, assim, a primeira sala de cinema, em abril de 1896, no Robert Houdini. As exibições eramum sucesso e agradavam muito a Méliès, que logo quis fazer seus próprios filmes.

Méliès então tem a idéia de transformar seu projetor (teatógrafo) em uma câmera, invertendo o aparelho, acrescentando uma lente de filmagem, fecha o obturador com uma tampinha para isolá-lo da luz e passa a filmar com este apareho. Era uma máquina pesadíssima e de difícil transporte, o mecanismo ficava dentro de uma caixa de madeira e sobre um superte pesado. A capacidade era apenas de 20 metros de película. Não havia visor, de forma que regulava-se o enquadramento e o foto sob uma capa preta, como nas máquinas fotográficas. Uma roda presa ao pé do aparelho servia para colocálo em funcionamento. Além disso, ao funcionar, a máquina fazia muito barulho, sendo apelidada por Méliès de "moinho de café", ou "metralhadora".

Mas os resultados foram satisfatórios, e em maio/junho de 1896 Méliès roda seu primeiro filme, no jardim de sua casa: "Une parte de cartes (uma partida de cartas)", onde aparece atuando.


Apesar de ter conseguido uma câmera para gravar seus filmes, isso deixou Méliès sem o projetor para exibi-los, já que a transformação feita por ele era irreversível. Assim teve que procurar outro aparelho para exibir seus filmes, indo atrás de outro fabricante: Louis Charles. No dia 20 de abril de 1986 Louis patenteia tal projetor, de projeto bastante original, que é considerado moderno e ousado para época e foi utilizado até os anos 60. Porém, em 4 de setembro de 1896, Méliès também patenteia, junto a seus sócios, a invenção do kinetográfico, mesmo projeto da patente de Charles. Não se sabe se houve plágio por parte de Méliès ou se houve acordo com Louis Charles.

2 comentários:

  1. Olá tudo bem ! Primeiramente , gostaria de agradece-lo(o blog) pelos detalhes informados nesse texto , realmente muito rico em informações, gostaria também, de por favor, solicitar , se possível, a fonte de tais informações, estou fazendo esta pesquisa para um trabalho sobre meliés, e gostaria de me aprofundar nesse tópico, se possível , do contrário agradeço pela publicação, e usarei apenas o link do blog como bibliografia . Obrigado !

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